Ruka e Kuka: Porque todos temos fracassos...

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Porque todos temos fracassos...

Augusto Cury (2015). “Bons pais preparam os filhos para os aplausos, pais brilhantes preparam os filhos para os fracassos.”


Quando eu era pequena, lembro-me bem da pressão que foi criada sobre mim para ser a melhor, para ter boas notas, para ganhar todas as corridas, para ser um exemplo, para ser boa menina... agora olho para trás e pergunto-me não seria demais pedir tanta coisa a uma criança?!?!?

Sempre fui muito boa aluna, mas não era a melhor, sempre tive sucesso nos desportos que fiz, mas nunca fui a vedeta... cumpria um pouco dos requisitos dos meus pais, mas nunca na totalidade...
Desde pequena que fui gerindo as minhas expectativas sobre mim própria de uma forma confiante, mas o medo de errar, de não cumprir os mínimos dos meus pais (que eram muito elevados) acompanhava-me no dia a dia e, nos campos em que era menos boa como a geografia e a história (aluna de 80% e não aluna de mais 90% como era nas áreas de ciências), os traumas ficaram para sempre nunca conseguindo gostar destas áreas, provavelmente por medo de falhar...


Hoje, sou mãe de dois filhos maravilhosos... até hoje bons alunos, bons meninos... com as suas birras como todos, com momentos difíceis como todos, com as suas fraquezas como todos... Tento aceitá-los como são, ser exigente q.b. pois penso que as escolhas são deles, o caminho é deles e eles têm que perceber desde cedo que são responsáveis pelo futuro deles próprios e que embora nós (pais) possamos ampará-los nas quedas não poderemos (nem deveremos) evitar que as dêem. 


Todos, na nossa vida, temos momentos de fracasso e estamos muito mal preparados para lidar com eles. Temos que habituar as nossas crianças que o fracasso faz parte da vida e que temos que saber aceitá-lo e encontrar novos caminhos para o ultrapassar...

Lembro-me de um episódio do meu filho mais velho, com 2 anos a tentar colocar umas cotoveleiras (para andar de bicicleta). Estávamos na sala em casa e ele começou a fazê-lo no meio da sala... sentiu bastante dificuldade pois, com as suas mãos pequeninas e com alguma descoordenação própria dos 2 anos, quando puxava o fio para prender a cotoveleira, ela saltava do braço. A frustração era clara, mas ele não desistiu e foi-se esconder (achava ele!) debaixo da mesa da sala, para continuar a sua luta num sítio onde ninguém o visse.

Eu estava sentado no sofá a apreciar disfarçadamente a luta do meu filho. Várias vezes tive a tentação de o ir ajudar, porque de cada vez que saltava a cotoveleira, ele dava murros no chão e soprava como forma de desagrado. Mas mantive-me quieta como se não estivesse a observá-lo.

Esteve uns bons 5 minutos naquela luta. Experimentou diversas estratégias, tentando ajudar com as pernas, com a cara e com o outro braço para segurar a cotovoleira no sítio. Via-se que a raiva ía aumentando, mas nunca desistiu e ao fim de algum tempo, quando finalmente conseguiu colar a fita da cotoveleira e mantê-la presa no sítio, os seus olhos encheram-se de orgulho e no seu rosto espelhou-se uma felicidade única. Confesso que poucas vezes vi o meu filho tão feliz...

Mantive-me no cantinho do meu sofá, como se não tivesse visto, deixando-o gozar aquele momento de felicidade e orgulho próprio sem a minha interferência (pois ele não procurou a aprovação da plateia). Mas confesso que as lágrimas me correram pela face, com muito orgulho do meu filho que tinha conseguido ultrapassar uma luta que para ele foi tão difícil, com tantos momentos de frustração. Ele, sozinho, experimentando vários caminhos, chegou a vários becos sem saída mas mantendo a força conseguiu encontra o caminho para o sucesso.


Uma lição de vida... conseguindo lidar com a frustração, ele conseguiu alcançar o sucesso.

Hoje, como 8 anos, penso que numa situação com a mesma dificuldade, já não era capaz de fazer o mesmo. Infelizmente a sociedade e, provavelmente também mãe e o pai, com um grau de exigência que foi exercido sobre ele ao longo destes anos, imprimimos sobre ele uma pressão muito grande que tornou muito mais difícil a tarefa de lidar com as limitações...

Eu confesso que me esforço por aceitar os meus filhos como são, por acreditar que não precisam de uma grande intervenção minha (para além do amor incondicional e de um bom exemplo) para seguirem o caminho deles, que a natureza irá conspirar a favor deles e que eu tenho que deixar fluir...



Mas, às vezes, quando vejo os maus comportamentos, as birras, as desobediências, as faltas de empenho nas tarefas obrigatórias... lá vem o lado autoritário da maternidade, o lado de se sentir responsável pelo encaminhamento da criança e o lado de obrigar a criança a abandonar as suas escolhas para fazer aquilo que temos a certeza ser mais correto.

Ser mãe é tão difícil... :)





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